quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Desculpem...

Nossa, não escrevo há milênios!!! Prometo me disciplinar =)

Bem, neste momento estamos em Buenos Aires. A Odebrecht nos apoiou com alimentação e hospedagem, o que significa que estamos num hotel chiquérrimo, o NH Crillón. Fica bem na porta do Metrô!!! O quarto tem banheira (ou uma ducha maravilhosa) e é muito lindo! =D O problema é que só tem comida chique no restaurante, com certeza engordarei =(

Chegamos à Argentina ontem de tarde. Saímos de Montevideo no nosso horário "normal" de viagem - 4 da manhã. A estrada era toda de pampas, sem nada de nenhum lado a não ser plantações de trigo, de soja e criações de gado. Foi até difícil encontrar um lugar para tomar café, não tinha nem posto de gasolina por perto (imagina um motorista desavisado por lá, tadinho...).

Na fronteira, como sempre, nos fizeram esperar horrores. Mas, desta vez, foi por um motivo político: queríamos chegar até um lugar onde está localizado, há três anos, um movimento ambientalista. Eles bloquearam uma ponte que dá acesso à Argentina (de fato, é o caminho mais curto entre Montevideo e Buenos Aires) como uma forma de protestar contra a instalação de uma indústria de papel - que polui bastante o Rio Prata. O conflito é interessante pelo que gerou: uma fronteira bloqueada em pleno Mercosul - haja contradição!

Enfim... os uruguaios nos seguraram por quatro horas e meia na fronteira. Incrível! Mas mantivemos o bom humor, acima de tudo (apesar de estarmos mortos de fome). Enfim, conseguimos a liberação deles, depois de fazer pressão sugerindo ligar para a embaixada. Fomos ansiosos mas também com um pouco de medo em direção ao bloqueio da estrada. Esperávamos coisas horríveis - militantes com os rostos cobertos, armados, sem disponibilidade de diálogo. Finalmente chegamos ao local. Todos tensos, um grupo da coordenação saiu primeiro do ônibus para "negociar". E o que encontraram foi surpreendente: velhinhos com o rosto descoberto, super atenciosos, nos pedindo para entrar e conhecer suas instalações. Inclusive nos deixaram filmar e fotografar.

Quando entrei ali, pensei a princípio que era contraditório: um movimento ambientalista que usa ar condicionado? Mas, logo, voltei atrás. Primeiro porque as instalações eram realmente muito precárias - o ar condicionado provavelmente fora doado por alguém, era bastante antigo, e o banheiro era bem improvisado, até com uma placa dizendo "apenas líqüídos" (acho que a tubulação não agüentava processar o número 2). Então pensei que seria impossível sustentar um movimento, por tanto tempo, sem o mínimo de conforto. Nunca havia pensado por este ponto de vista...

No fim das contas, o pessoal de Arroyo Verde (como eles chamam o local) nos deixou passar pelo bloqueio! Foi emocionante ter passado por um lugar há três anos fechado, nos sentimos super honrados. =) Fomos inclusive chamados para participar da Assembléia deles, de noite. Foi muito bonito: aproximadamente uns 200 velhinhos debatendo questões de meio ambiente, protesto, política. Fiquei tão orgulhosa deles, apesar de nem serem brasileiros! Fiquei orgulhosa como latino-americana, talvez, e isso pode significar que a Caravana realmente é pela Integração.

No Brasil, jamais aconteceria algo nesta dimensão. Tenho a impressão de que, no Brasil, quem realmente faz protesto - na prática e buscando um desenlace real - são os menos favorecidos. A classe média não mexe um dedo. Algum morador da Barra foi acampar na orla como protesto contra o PDDU de João Henrique? Ninguém fez nada mais que escrever textinhos para o blog, para o jornal... É horrível isso, essa passividade. Acho que talvez a universidade pudesse fazer algo respeito, mas recentemente o que a academia tem valorizado é justamente a publicação de textos, e não o trabalho para a comunidade no sentido mais prático do termo.

Enfim... este post já está longo demais. Depois escrevo mais sobre um encontro fantástico que tive ontem, com as Madres de la Plaza de Mayo!

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